Que saudades das alegres tardes,
Quando ele chegava fazendo alardes,
Vindo ao trote do fogoso pingo baio,
Apeava rindo, nos olhando de soslaio.
De botas, bombacha e camisa branca,
Na face corada, aquela risada franca,
Das algibeiras ele tirava os caramelos,
Que jamais se esquecia de trazê-los.
Era o nosso pai, e nós um piazedo,
Já saudoso, pois ele saíra muito cedo,
Pra Guarani, ao comércio, era costume.
A gente esperava e ele sempre trazia,
Algum agrado para nos dar uma alegria,
Pois das nossas vidas, ele era o lume.
14/02/2020
O campo era branco de geada,
Manhã fria de inverno,
E eu ia da casa ao galpãozinho,
Tiritando sozinho,
Soprar a brasa num guarda-fogo de angico,
Para o mate da madrugada.
O raio que principiava aquela lida,
A vigilante brasa que varava a noite,
Era como um fogo simbólico,
Para mim era um apoite,
Daquele momento bucólico,
Para sequência da vida.
A chaleira preta chiava sobre a brasa,
E eu já ouvia a buia lá na casa,
Era meu pai que vinha pra perto do fogo.
E a cuia recebia o afago,
A bomba sentia o beijo amargo,
E, silentes como somos nas manhãs,
Bastava um olhar de cumplicidade,
Do pai parceiro,
Na simplicidade daquele viver campeiro.
E hoje, tudo longe e tudo perto,
Aqui e no outro lado da vida,
Meu pai, a lo largo e tão cerquita,
Na vigília está por certo,
Pois meu coração palpita,
Galopando a toda brida.
E eu lhe digo, por arremate,
Me espere, ceve um mate,
Que qualquer dia eu chego lá.
Sopro a brasa do passado,
Que não passa, apeado,
Da saudade de ser piá.
Cuiabá, 12.04.2013
Ai que saudades do Porto...
Anos oitenta, burgo pequeno,
Mas a vida ali era grande.
Dias longos, tempo pra tudo,
Para as lutas e para o amor,
E para se viver com todo o vigor!
E quando o sol ia se pondo,
Fugindo atrás das matas no Arinos,
Tocassem ou não os sinos,
Na Trimangal Caetano cantava Sampa,
Umas cervejas, os amigos, as prosas,
Conversas, controvérsias calorosas,
Entre figuras de variada estampa.
E se havia disputas no futebol,
O ginásio fervia após o arrebol,
Era uma guerra, declarada ou não!
Pra tudo acabar na lanchonete,
Vencedores e vencidos de cada escrete,
Se congraçavam ardentes de paixão.
Aí que saudades do Porto...
Dos bailes animados que dançamos,
No ginásio e também no Crep,
Carnavais simples, diferentes,
Não tinha televisão nem internet,
E a vida era boa e se vivia de montão!
Naquele tempo tudo era simples,
A política, a sociedade organizada,
Os poderes controlados pelo povo.
Normal os patrões e a peonada,
Na mesma festa ou na mesma dor,
Estratificação social? Faz favor!
Que disso ali não tinha nada.
Claro que houve coisa ruins também,
Das quais eu me olvido, porém,
Pois a dor faz parte, é necessária...
É o que defendo nesta plegária.
Mas para que guardar os infortúnios?
Deixemos as águas do Arinos levar
Lembremos do luar, não dos interlúnios.
Como esquecer Chalana, Halley, Trimangal,
Pontos de encontro e festas sem igual,
Naqueles doces tempos imemoriais,
Só quem viveu e sentiu tudo aquilo,
E de muitos casos não se fez sigilo,
E o Scoolacho guardou nos seus anais.
Aí que saudades do Porto...
E de tudo aquilo que por lá vivi,
Tanta coisa que não cabe aqui,
Nesse apressado versejar.
E quando me ardo de saudade,
Juro que me dá uma vontade,
De largar tudo e pra lá voltar!
29 e 30 de abril de 2022.